Na arquitetura e no urbanismo a acessibilidade tem sido uma preocupação constante nas últimas décadas. Já faz algum tempo que as obras e serviços de adequação do espaço urbano e dos edifícios vêm atendendo as necessidades de acessibilidade no que se refere às rampas de acesso, larguras de portas, etc.
Mas o que podemos dizer especificamente sobre a acessibilidade das instalações elétricas? O que deve ser feito em uma instalação elétrica que atende prioritariamente pessoas idosas, doentes e/ou com dificuldade de locomoção? Os simples atos de ligar/desligar um interruptor ou inserir/retirar um plugue de uma tomada podem ser quase impossíveis de executar para uma pessoa numa cadeira de rodas, total ou parcialmente paralisada. Esses simples gestos podem ser muito complicados até mesmo para pessoas idosas, mesmo que não paralisadas.
Segundo pesquisa do PNAD (IBGE) de 2012, entre 1992 e 2012, o número de idosos morando sozinhos no Brasil triplicou, de 1,1 para 3,7 milhões, sendo que, no mesmo período, a população de pessoas acima de 60 anos saltou de 11,4 para 24,8 milhões. O Censo de 2010 indicou que havia na época 45 milhões de brasileiros com algum tipo de deficiência. Desta forma, é imperativa a reflexão sobre como tornar as instalações elétricas acessíveis e amigáveis para este enorme contingente de pessoas que cresce a cada dia. Em alguns países da Europa e nos Estados Unidos, faz algum tempo que este tema vem sendo enfrentado pelos especialistas. E, de uma forma geral, a solução encontrada passa pelo uso da mesma ferramenta: a automação residencial e predial.
O emprego de sensores de presença e de voz que acionam luzes, aparelhos eletroeletrônicos, alarmes, campainhas, cortinas, etc.
torna a vida menos difícil para as pessoas com deficiências ou mobilidade reduzida. A integração tão necessária entre os projetos de automação residencial e de instalações elétricas é fundamental nos casos de locais que necessitam considerar as questões fundamentais de acessibilidade.
É importante lembrar que a presença de pessoas com deficiências ou mobilidade reduzida não é exclusiva de hospitais e clínicas de repouso, mas pode estar presente numa casa, sobrado ou apartamento. Nos últimos anos, no Brasil, tem havido um aumento importante na quantidade de tratamentos pelo sistema chamado home care, transformando setores das habitações em verdadeiros
quartos de hospitais, onde são utilizados equipamentos eletromédicos, alguns essenciais para a manutenção da vida.
Desta forma, planejar uma instalação elétrica para que possa receber alguma automação que vise a facilitar o acesso das pessoas às tarefas mais elementares de acender/apagar, ligar/desligar, é um serviço de grande utilidade que os profissionais especialistas podem
prestar à comunidade. Incluir requisitos de automação nas instalações ajuda a torná-las mais humanizadas.
Neste momento em que a revisão da norma NBR 5410 encontra-se em andamento, seria muito oportuno incluir esta discussão para, quem sabe, dotar esta norma tão importante de alguns requisitos que considerem a acessibilidade. No entanto, enquanto a norma
não fica pronta, nada impede que os profissionais já considerem no projeto, na instalação e na manutenção das instalações elétricas alguns elementos que possam contribuir para tornar melhor a vida das pessoas que dependem da ajuda dos outros para realizar tarefas. Por que não?
Fonte: Revista Potência